sexta-feira, 19 de junho de 2009



Viciadas em paixão


Existem mulheres que não conseguem ficar sozinhas... Você é uma delas?

Por Carolina Mouta • 27/05/2008

http://msn.bolsademulher.com/amor/materia/viciadas_em_paixao/32847/1


"Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!"
Florbela Espanca
Ai, a paixão! Quem nunca ficou à mercê deste sentimento que espalha calafrios pelo corpo e faz o coração palpitar mais forte? Segundo os neurocientistas, o organismo dos apaixonados produz grandes doses anfetaminas naturais como dopamina, norepinefrina e feniletilamina. São elas as responsáveis pela euforia típica que tira os nossos pés do chão, mas também podem causar dependência. Isso explica ocomportamento das pessoas incapazes de relacionamentos amorosos duradouros, sempre à procura de novas aventuras, que saltam de um parceiro para o outro. Elas são viciadas em paixão.

Para a antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Mirian Goldenberg, esta busca ininterrupta pela paixão faz parte de toda mulher. "De certa forma, todas nós somos viciadas em paixão, somos educadas para acreditar que é possível viver permanentemente apaixonadas e queremos isso. Somos educadas pelas novelas, filmes e romances a acreditar na paixão. Mas, na vida real, ela dura pouco com o mesmo parceiro. Assim, buscamos novas paixões, acreditando que elas podem durar. Não duram e o processo continua", explica.
Mirian diz, ainda, que este é um sintoma do comportamento contemporâneo. "O vício pela paixão é um fenômeno cultural e se torna um imperativo na sociedade moderna que valoriza o novo, a aventura e as experiências intensas". Já para a psicóloga Ana Cristina Calil, na maioria das vezes, este comportamento pode ser uma forma de não querer lidar com a dor. "As pessoas estão cada vez mais reativas, com medo de se relacionar. A troca de parceiros aponta para o medo de sofrer, de amar, como se houvesse uma correlação entre os dois", afirma a especialista.
E o pior: este temor é inconsciente. "Estas pessoas nem sempre reconhecem o medo. Ele está encoberto. As pessoas agem sem pensar. É uma forma de proteção", garante Ana Cristina. A psicóloga Clarissa Fernandes também chama atenção para as frustrações do passado. "Falhas na formação emocional básica do indivíduo, em especial na capacidade de suportar frustrações, podem ser a causa deste comportamento apresentado por algumas pessoas", esclarece.
Clarissa ainda alerta para os perigos da paixão. "A paixão é um estado alterado da consciência e pode ser bastante perturbador. O nível do sentimento pode chegar a um estágio que dizemos ser patológico, ou seja, doentio", adverte.
Vamos, então, usar duas nomenclaturas para diferenciar os tipos de paixão: a "paixão doentia" não evolui para o amor, pois se trata de um sentimento provocado por carências e dificuldades emocionais do indivíduo. Já a "paixão normal" é o enamoramento, que pode (ou não) evoluir para um amor maduro, saudável e duradouro. Este tipo de paixão é um sentimento agradável, que traz a sensação de felicidade.
Como dá para perceber, quando a paixão não é patológica, ela é positiva. Não há mal algum em ter um coração volátil, estar bem resolvida e querer alguém para dar uns beijos na boca, curtir a vida e - quem sabe? - deixar a porta aberta para o amor. Mas, para isso, a auto-estima deve estar lá em cima.
Segundo uma pesquisa feita pela professora Cindy Hazan, da Universidade Cornell de Nova York, as substâncias que controlam este sentimento são encontradas juntas no corpo humano apenas durante as fases iniciais do flerte. Com o tempo, o organismo vai se tornando resistente aos seus efeitos, e toda a loucura e a atração vão sumindo. O casal, então, se vê frente a uma dicotomia: ou se separa ou habitua-se a manifestações mais brandas de amor - companheirismo, afeto e tolerância -, permanecendo junto.

No livro "Infiel: notas de uma antropóloga", Editora Record, a antropóloga Mirian Goldenberg mostra o frágil equilíbrio entre amor, paixão e amizade. "O ideal é que o amor se torne o sentimento mais forte sem, no entanto, fazer desaparecer a paixão. Fato quase impossível em um casamento duradouro, já que a paixão se alimenta da insegurança, da dúvida, da aventura", explica a autora. O amor vem com a endorfina, substância que dá sensação de segurança, calma e tranqüilidade, que começa a ser produzida pelo organismo depois de passado os arroubos da paixão. Aí vem também o querer ficar junto.
A designer Bárbara Miguez, 29 anos, não sente falta da endorfina que faria brotar o amor em sua vida. "Sou bem-resolvida assim. Gosto de sair com uma boa companhia, curtir, me apaixonar naquele momento. O amanhã é outro dia. Uma outra pessoa pode virar uma boa companhia e me fazer feliz. Por isso não faço a menor questão de amar, mas adoro curtir uma paixão", garante ela, que vive desde nova este comportamento. "Desde a minha adolescência não sei o que é ficar sozinha. Quando terminei o primeiro namoro, que durou três anos, as coisas fluíram na direção da paixão. Fico com uma pessoa por dois meses, outra por quatro meses... Nunca estou sozinha, sempre emendo um namorico apaixonado no outro. Vivo intensamente o relacionamentoe sou feliz assim. Tudo acaba quando começam as cobranças. Esse negócio de perguntar por que eu não liguei ou por que eu não atendi ao telefone não me atrai nem um pouco. Por isso, prefiro agir desta forma, meio sem compromisso. Na hora em que não há mais aquele furor quando nos vemos, ele vai para o canto dele e eu, para uma nova paixão", explica.
Ou estas mulheres ficam permanentemente buscando a paixão perdida, ou amadurecerem e perceberem que esse sentimento é impossível de ser alcançado, passando, então, a valorizar relações amorosas mais reais, com parceiros não idealizados e que também apostem no amor
O outro lado da moeda
A advogada Julia Oliveira, 30 anos, até faz piada: "Enquanto não encontrar o homem certo vou me divertindo com os errados!". E completa: "É claro que quero um relacionamento mais longo, que tenha futuro. Só que ainda não ouvi o click vindo do coração. Sei que esta hora irá chegar, mas enquanto não chega eu vou aproveitando os bons momentos e as boas paixões que a vida me proporciona".

Quem compartilha a opinião de Julia é a jornalista Andréia Almeida, 28 anos. "A maioria das mulheres sonha com um relacionamento que dure. Casar e ter filhos é um desejo ainda muito presente. E este é um planejamento que começa quando encontramos um parceiro que seja companheiro, cúmplice, e que possamos contar. É por isso que espero o homem da minha vida. Sei que um dia ele vai chegar!", conclui.
E para as apaixonadas de plantão que desejam mudar o quadro, eis a boa notícia: o problema tem solução. O tratamento para a "paixonite" passa por uma avaliação íntima. "Para estar harmonizado e ser feliz é preciso se conhecer. E oautoconhecimento traz o discernimento, a clareza. Ao se conhecer melhor, a pessoa tem consciência sobre o que deve ou não fazer", ensina a psicóloga Ana Cristina Calil.
Na opinião da antropóloga Mirian Goldenberg há dois caminhos que podem ser seguidos. "Ou estas mulheres ficam permanentemente buscando a paixão perdida, ou amadurecem e percebem que esse sentimento é impossível de ser alcançado, passando, então, a valorizar relações amorosas mais reais, com parceiros não idealizados e que também apostem no amor", enfatiza.
Então, o importante é se conhecer e entender suas emoções. Somente sabendo claramente o que você deseja para sua própria vida é possível resolver bem o campo amoroso e viver intensamente todas as paixões reservadas a você...

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