segunda-feira, 22 de junho de 2009


Elas não estão mais tão sozinhas nos preparativos

Apesar de serem minoria, noivos começam a mudar de comportamento, deixam de ser passivos nos preparativos e assumem papel importante ao lado das noiva

Aline Oliveira


É manhã de feriado e o administrador Michel Pinheiro troca a praia para ir às compras com a noiva, com quem casará dentro de quatro meses, a sogra e a cunhada. Um dos destinos é uma loja especializada em produtos para festas e o objetivo é comprar caixetas especiais para os doces da festa. Pacientemente, ele ajuda a fazer contas, avaliar o custo benefício, analisar combinações de cores, conferir tudo, organizar no carrinho e ainda ficar de olho na hora do empacotamento.

Ele está atento a cada detalhe – dos doces, da decoração, das músicas e de tudo mais que está envolvido com o casório – por um motivo que parece simples: ele acha que o momento é especial demais para passar batido. “O casamento é um momento único e sagrado, só acontece uma vez na vida e tem que ser perfeito. Por isso gosto de participar de todas as decisões porque a festa também é minha”, justifica.

Quem também viveu este momento de um jeito bem diferente do tradicional foi o advogado Ricardo Almeida, que não apenas participou de tudo como planejou detalhes que tornaram a cerimônia inesquecível para os convidados e uma surpresa para a própria noiva. A personalidade detalhista, já conhecida dos amigos, também fez com que ele tivesse participação ativa na decoração da casa e nos momentos importantes que vieram depois, como a montagem do enxoval da primeira filha. “Quero fazer com que cada momento seja especial”, explica.

Michel e Ricardo sabem que são exceções à regra de que os noivos, em geral, se enfadam rápido destes preparativos, mas também têm certeza de que não são mais vozes solitárias. Assim como eles, outros noivos começam a freqüentar os escritórios dos profissionais do mercado acompanhando suas noivas na hora de planejar a festa. E mais: eles querem ter voz nas decisões, falam o que querem e não concordam com o que não gostam.

A mudança em alguns casos é tão grande que até no buquê da noiva eles querem dar “pitaco”. O decorador Wendell Rodrigues confirma que os rapazes não são muito vistos em seu escritório, mas já se deparou com um noivo que ficou no seu pé para garantir que uma flor diferente solicitada pela noiva fosse providenciada. “Eu fui prometer a ela e ele que ficou cobrando depois. Quando resolvem se envolver, se não tiver cuidado, acabam querendo tomar o lugar da noiva”, se diverte.

De acordo com a psicóloga Luciana Layse, que também atua no mercado de casamentos, esta mudança de comportamento é bem recente, mas já começa timidamente a influenciar no jeito do mercado trabalhar. Em sua loja de aluguel de roupas, ela já vê muitos noivos que chegam sozinhos, de maneira muito segura, para escolherem seu traje sem os olhos da noiva por perto. “Esta é uma das novidades no comportamento desta nova geração”, avalia.

Diferenças no comportamento têm fundo cultural
Segundo Luciana, esta diferença entre as posturas do noivo e da noiva diante da festa de casamento está relacionada diretamente com o temperamento e com as diferenças de personalidade, mas também é influenciado diretamente pela cultura. É ela que faz com que os homens se preocupem mais com o orçamento da festa e as noivas com a realização de um sonho de princesa. “Não é à toa que depois de casadas, muitas mulheres sentem falta dos tempos de noivado, quando s viviam intensamente cada detalhe deste sonho”, observa a psicóloga.
Esta participação ainda é tímida e até mesmo na preparação do novo lar, como observa o proprietário de uma loja de móveis projetados, Ismael Calet, os homens deixam quase tudo nas mãos das mulheres e só aparecem para assinar o cheque. “Em 91% dos negócios fechados nas nossas lojas, a decisão é da mulher. E é ela que sempre busca o diferencial, está ligada nos detalhes, na textura e no acabamento dos móveis”, conta.

Participação é importante para a vida a dois
Com noivos participativos ou não, no entanto, Luciana lembra que a preparação de uma festa de casamento deve sempre envolver noivo e noiva nas decisões para que o evento tenha o perfil do casal e não apenas de um dos dois. Como ela lembra, “planejar esta festa é o começo da vida a dois, é preciso experimentar dividir as coisas, lidar com valores diferentes e com os conflitos”. “É por isso que tem mesmo que perguntar o que o outro quer, combinar tudo. Este é um treinamento para a vida de casal e o comportamento neste momento dá sinais de como será depois da lua-de-mel”, alerta. O diálogo, portanto, é um bom sinal.

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